NERVOS DE AÇO - UM RETRATO DA POLÍTICA
E DOS POLÍTICOS NO BRASIL
A crise política iniciada em maio de 2005
pelas gravíssimas denúncias do então deputado
Roberto Jefferson cujos desdobramentos estão
longe de chegar ao fim teve ingredientes inéditos. Primeiro,
o ataque não veio da oposição, mas do presidente
do PTB, partido da base aliada. Segundo, as dimensões da
corrupção e as cifras envolvidas eram tão gigantescas
que nos meses seguintes a crise ganhou vida própria, apesar
dos desesperados esforços do governo para contê-la.
Terceiro e mais importante: resistindo a todas as pressões,
a todas as tentativas de acomodação e intimidação
que chegaram a envolver sua família, o denunciante manteve
até o fim a decisão de tirar o véu que por
anos encobrira tantos conchavos e falcatruas.
Roberto Jefferson rompeu não apenas com
o governo Lula, mas com toda uma tradição política
brasileira. Em vez de conciliar, partiu para o ataque. O preço
pago foi o suicídio político: desde o início
ele sabia que perderia o mandato. A revelação da existência
do Mensalão atingiu no peito o governo Lula e o PT. O escândalo
gerou três CPIs e afastou da esfera do poder os principais
nomes do partido, como o ex-ministro da Casa Civil, José
Dirceu, e os dirigentes José Genoíno, Delúbio
Soares e Sílvio Pereira, e chegou a ameaçar de impeachment
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Num depoimento histórico ao jornalista
e escritor Luciano Trigo, Roberto Jefferson revela como o governo
Lula e o PT, partido que durante 25 anos se arvorou em guardião
da ética, se associaram na criação do maior
sistema de corrupção já visto neste país,
e de um projeto de poder a longo prazo baseado no aparelhamento
do Estado. Ao mesmo tempo, demonstra que isso só foi possível
porque o ovo da serpente vinha sendo chocado há muitos governos.
Este livro investiga a fundo as origens e os
mecanismos da corrupção na história recente
do Brasil, mostrando como ela se entrelaça com a fragilidade
do nosso sistema político, viciado até a medula no
loteamento das estatais, nas trocas de balcão e no caixa
2. O autor analisa como o PT se transformou num partido comprometido
com os interesses das elites financeiras, e como a política
virou escrava da economia; explica como as agências de publicidade
substituíram as empreiteiras no papel de agentes da drenagem
de recursos públicos; e revela por que Lula não foi
afastado do poder embora não faltassem motivos para isso.
Em texto claro, com detalhes inéditos
sobre os bastidores do escândalo, incluindo diálogos
ignorados pela imprensa, esse relato tem interesse jornalístico
excepcional. E vai além: revelador mas não sensacionalista,
duro e direto, Nervos de aço – Um retrato
da política e dos políticos no Brasil é
livro cuja importância sobreviverá a gerações,
transformando-se em fonte de consulta indispensável para
quem, no futuro, pretenda compreender essa crise que, apesar das
aparências, ainda não acabou.
***
Roberto Jefferson nasceu a 14
de junho de 1953, em Petrópolis. Filho e neto de políticos
petebistas, formou-se em Direito em 1979 e no ano seguinte entrou
no PTB, partido cuja fundação, em 1945, teve a participação
de seu avô. Seu nome se tornou conhecido nacionalmente durante
o processo de impeachment de Fernando Collor, quando atuou,
como advogado, na defesa do então presidente da República.
Em 1990, era relator de Comissão de Constituição,
Justiça e Redação, cargo em que promulgou a
Lei de Crimes Hediondos. Em 1999, o PTB o elegeu líder na
Câmara dos Deputados. Em 2003, foi eleito presidente do partido.
Em 2002, apoiou Ciro Gomes para a Presidência da República.
No segundo turno daquela eleição, foi voto vencido
na Comissão Executiva do PTB e apoiou, a contragosto, o candidato
vitorioso, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Como presidente
do PTB, determinou a aliança com o PT nas capitais para as
eleições municipais de 2004, recebendo apoio para
as cidades de Juiz de Fora, Belém e Recife.Foi deputado federal
por 23 anos, pelo PTB, até ter seu mandato cassado, em setembro
de 2005, após denunciar o Mensalão.
Luciano Trigo, ex-editor do
caderno Prosa & Verso de O Globo, é autor de,
entre outros livros, O viajante imóvel, Machado de Assis
e o Rio de Janeiro de seu tempo e Engenho e memória,
O Nordeste do açúcar na ficção de José
Lins do Rego (premiado pela Academia Brasileira de Letras e
editado pela Topbooks em 2002).
TEXTO DE QUARTA-CAPA DE "NERVOS
DE AÇO"
Dia 14 de junho de 2005. Clima de final de Copa
do Mundo. Durante mais de sete horas o Brasil parou para ver o depoimento
do deputado Roberto Jefferson na Comissão
de Ética da Câmara dos Deputados. Ao mesmo tempo em
que a casa de sua filha, em Petrópolis, era invadida e revistada
pela Polícia Federal, Jefferson deixava a nação
aturdida com a denúncia do Mensalão, um esquema de
corrupção de parlamentares promovido pelo governo
Lula, classificado em editorial da Folha de S. Paulo como
culpado do "maior estelionato eleitoral da história
da República”. Nos meses seguintes, três CPIs
simultâneas trouxeram à tona escândalos em série,
em que não faltaram episódios pitorescos como os dólares
na cueca e revoltantes como a violação do sigilo bancário
de um caseiro. Agora, às vésperas de mais uma eleição
presidencial, o homem que abalou os alicerces do sistema passa a
limpo esta e outras histórias num relato histórico:
Nervos de aço mostra a política brasileira
como ela é.
“(...) conheci o deputado Roberto Jefferson
no tempo do Collor. Nós tínhamos posições
diferentes. (...) Ele foi corajoso, defendeu uma coisa muito difícil.
Portanto, ele enfrenta situações. Eu não o
tenho por mentiroso.
Fernando Henrique Cardoso in
O Tempo, 26/6/2005
"Um abraço, Jefferson, pela tua competência.
Eu disse que aquela tua manifestação lá naquele
dia na Câmara, no Conselho de Ética, foi a peça
mais bonita que vi em toda a minha vida no Congresso Nacional. (...)
Se contares mais as outras coisas que souberes, estarás prestando
um bom serviço a este país.
Pedro Simon na CPMI dos Correios,
30/6/2005
OUTRAS OPINIÕES SOBRE A CRISE
"O curioso é como as peças
e os atores se modificam. É uma espécie de roda da
vida. Não é fácil tentarmos impedir que as
contas dos fantasmas sejam vasculhadas. Aqueles que foram exorcistas
ontem se abraçam com os fantasmas hoje". As frases ditas
pelo ex-deputado Roberto Jefferson em 30 de junho de 2005, durante
depoimento à CPI dos Correios que investigou o escândalo
do mensalão ilustram bem a sensação de déjà-vu
que a crise do dossiê desperta. Há coincidências
intrigantes entre o esquema do mensalão e o caso do dossiê.
A primeira é a perplexidade imediata de integrantes do PT
com o fato de filiados estarem envolvidos em esquemas ilícitos.
A segunda é a rápida estratégia para garantir
que nada respingue no presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
(...) Em 2005, foi Jefferson quem apontou o dedo para o núcleo
do PT. Partiu de um aliado a confissão do esquema do mensalão.
Agora, é o petista Gedimar que joga a bomba na campanha de
Lula ao citar o nome de Freud Godoy, até segunda-feira assessor
especial da Presidência, como um dos interlocutores na negociação
do dossiê. (...) As investigações devem revelar
se Roberto Jefferson tem ou não vocação para
profeta".
Malu Delgado, Folha de S. Paulo,
21.9.2006
"O mais significativo de tudo é que
nunca, em toda a nossa história, houve escândalo semelhante,
envolvendo o pessoal mais próximo do presidente da República,
como José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil; José
Genoíno, presidente do partido de Lula; Delúbio Soares,
secretário de finanças, e Sílvio Pereira, secretário-geral
do PT. Todos eles, além de ocupar os cargos que ocupavam,
eram amigos do presidente, que com eles privava e com eles construiu
o partido; proximidade maior do que essa só com mulher e
filhos. Não obstante, Lula afirmou que havia sido traído,
que de nada sabia, e tratou de afastar para longe de si, para longe
do governo e do partido, todos os implicados na bandalheira. Mas
não os acusou, não os puniu, e, ainda, passado o susto,
chamou-os de amigos e os desculpou, afirmando que "errar é
humano".
Precisaria algo mais claro do que isso? Nenhuma
pessoa que examine com isenção esses fatos acreditará
na inocência de Lula. O próprio Lula, sob a pressão
do escândalo, lançou mão do único argumento
que lhe restava: o que fizemos todo mundo faz".
Ferreira Gullar, Folha de
S. Paulo, 10.9.2006
"Quando o Roberto Jefferson abriu a porta
do bordel do Ali Babá, nós tivemos uma visão
de como o atraso, o clientelismo e a corrupção funcionam
no Brasil. Também vimos como é utópica, frágil
e louca, na minha opinião, essa idéia do que seria
'progressista'. É um ensopadinho feito de leninismo, getulismo, desenvolvimentismo,
estatismo e sindicalismo".
Arnaldo Jabor , Páginas
Amarelas de Veja, 6/9/2006
“Há uma certa regressão no
país que fez o impeachment de Collor quando se passa
uma esponja no escândalo do Mensalão. Lula e o PT afastaram
os acusados, Lula se disse traído, mas a cada solenidade
de despedida dos que cometeram delitos levantou a voz para dizer
loas morais a essas figuras. E pôs a culpa num possível
complô das elites através da mídia, o que eu
acho completamente incongruente.
Caetano Veloso, Folha de
S. Paulo, 7/9/2006
“Pagar Mensalão é crime e
como crime deve ser tratado. No caso do Mensalão a fonte
foi pública. Isso é roubo de dinheiro do povo. (...)
O próprio presidente, que é responsável pelos
ministros, não tendo atuado para demiti-los nem depois do
fato sabido, é passível de crime de responsabilidade”.
Fernando Henrique Cardoso in
"Carta aos eleitores do PSDB", setembro/2006
"Não adianta Lula falar que não
sabia do Mensalão, porque eu avisei a ele em Rio Verde [na
inauguração da fábrica da Perdigão,
em maio de 2004] e ele disse: 'cuide de seus deputados que
eu cuido dos meus'. (...) Como Lula tem problema de amnésia,
deve ter esquecido disso também".
Marcone Perillo, ex-governador
de Goiás, in Estado de S. Paulo, 5/9/2006
"(...) Como já aconteceu em ocasiões
anteriores, a imprensa foi muito mal antes da crise, e me incluo
entre esses jornalistas. Acho um absurdo a gente não ter
sabido quem era o Marcos Valério (publicitário apontado
como o operador do Mensalão). Isso vai da imprensa de Minas
Gerais à imprensa do Brasil inteiro. Houve uma movimentação
enorme de pessoas em torno desse plano e nós não percebemos.
Se não fosse o Roberto Jefferson, nada se teria sabido. Depois
do Roberto Jefferson, a imprensa passou a tratar a crise com mais
competência (...)".
Augusto Nunes no Cosmo on Line
O portal do interior paulista |