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VERSOS DE MICHEL TEMER PARECEM MENSAGENS CIFRADAS

Manoel da Costa Pinto

A abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff nos expõe não apenas ao risco (a essa altura, praticamente certeza) de vermos Michel Temer na presidência da República, mas também de vermos, por obra de algum acólito, o livro "Anônima Intimidade" na lista de leituras obrigatórias dos currículos escolares.

Imagina-se que poucos manifestantes tenham conhecimento de que, aproveitando o tempo ocioso na ponte aérea São Paulo-Brasília, Temer tenha rabiscado em guardanapos de papel os versos reunidos nesse livro -como o próprio autor conta na apresentação do volume.

Tivessem ciência do teor da obra temeriana, talvez militassem sob outras bandeiras, se não por motivos éticos, pelo menos por razões estéticas.

Renato Parada / Divulgação
Temer no lançamento de seu livro em São Paulo, em 2013

Publicado em 2012, "Anônima Intimidade" teria passado em branco não fosse o próprio Temer ter aproveitado seu discurso de abertura na Feira do Livro de Frankfurt de 2013 para propagandear sua "ousadia literária".

Temer disse então que, ao publicar o livro, temia que o criticassem não por seu conteúdo, mas por alguém que está na vida pública atrever-se a adentrar a literatura. E comemorou o fato de, "com a graça de Deus", não ter recebido críticas -muito menos elogios.

Como a vida pública pode fazer o futuro presidente em exercício ambicionar também a condição de vate nacional, chegou a hora. E se o termo "vate" (informa o Houaiss) deriva do latim "vatis" -"oráculo", "agoureiro", em suma, o poeta como profeta-, é impossível não ler vaticínios nos versos de Michel Temer.

O mais eloquente, apontado por Gregório Duvivier no stand up "Precisamos Falar sobre Temer" (disponível no canal YouTube), é o poema "Embarque", aqui transcrito na íntegra, para não mutilar seu sentido profético: "Embarquei na tua nau/ Sem rumo. Eu e tu./ Tu, porque não sabias/ Para onde querias ir./ Eu, porque já tomei muitos rumos/ Sem chegar a lugar nenhum."

Eu e tu -a segunda pessoa do singular como clichê do parnasianismo diletante, onipresente no livro, ao lado de lembranças vazadas em registro adolescente- pode perfeitamente se referir à amada oculta ou a uma hipotética musa, que Temer também celebra numa chave mais erótica em "Vermelho".

Substituindo "eu e tu" por Michel e Dilma, porém, o poema não deixa de ser uma meditação sobre a barca furada da qual nosso poeta em exercício e seu impoluto partido acabam de desembarcar.

Pinçados aqui e ali, muitos versos do livro parecem mensagens criptografadas -a começar pelo poema de abertura, "O Outro": "O outro sou eu./ (...) Para vencer o medo, encorajei-me. Combati. Com firmeza./ Determinação. Contido. Para não chorar./ Argumentando, sempre."

Em "Reprodução", o "eu lírico" se expande para um coletivo que visa universalizar (e, com isso, absolver) suas tentações mais fatais: "Copiamos. Copiamos./ E copiamos./ Imitamos./ Repetimos./ Quantas ideias/ Originais. Transformação de outras ideias originais/ Que também foram transformadas/ De outras, originais".

Lidos sem má vontade, são versos que bem poderiam remeter ao Eclesiastes bíblico ("Não há nada de novo debaixo do sol") ou mesmo conter uma correta meditação sobre a dinâmica da criação literária, sobre o modo como todo poeta se reporta a uma tradição, sem jamais ser totalmente original.

O problema é que, ao afetar erudição metalinguística, Temer acaba caindo na armadilha de prestar uma homenagem a Borges, a quem dedica o poema "Repetição", reescrevendo um célebre texto em que o cerebral escritor argentino, às portas da morte, se lamenta de não ter vivido uma vida mais espontânea e livre.

Acontece que quem é do meio sabe há muito tempo que esse testemunho meloso atribuído a Borges é, na verdade, um texto apócrifo que circula na internet, falsamente atribuído ao autor de "História Universal da Infâmia".

Vários poemas de "Anônima Intimidade", aliás, celebram as paixões ou obsessões artísticas de Temer, como "Bergman e Antonioni" (homenagens aos dois diretores de cinema) ou "Socorro", em que ele convoca de Platão e Voltaire a Drummond e Hilda Hilst, numa longa e enfadonha lista de nomes que lhe servem como fontes de uma inspiração ausente no livro de cabo a rabo.

Mas atenção: o Moro citado ao final desse poema, ao lado de Milton Hatoum, não é o juiz da Lava Jato, mas o espanhol Javier Moro!

*

LEIA TRECHO

Correio elegante.

Hoje, torpedo.

Bom mesmo era o correio elegante

Nas quermesses do interior.

O garçom levava a sua mensagem para alguém.

Ou trazia,

Sempre anônimas,

Palavras de amor.

Ou admiração.

Despertava a curiosidade.

Quem mandou?

E a sua mente divagava.

Sonhava.

Fantasiava.

Desejava.

Será ela?

Outra?

Era uma intimidade aquele anonimato.

Depois, você caminhava para sua casa, para seu quarto.

E dormia inebriado pelas palavras e pelo perfume

Que o correio elegante trazia


Crítica Ilustrada
Folha de S.Paulo
19/04/2016

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