LEIA AQUI ALGUNS TRECHOS DO QUE JÁ
SAIU NA IMPRENSA
Coluna publicada no Jornal da Paraíba,
30 de novembro de 2006
Direto ao assunto / José Nêumanne
Os presidentes de Jefferson
Em 1992, o então deputado federal Roberto
Jefferson liderava a bancada governista do Partido Trabalhista Brasileira
(PTB) e funcionava, na prática, como principal defensor do
então presidente Fernando Collor de Mello, protagonista de
um processo de impeachment, que o apearia do poder. Treze anos depois,
na presidência do mesmo partido, também aliado do governo,
desta vez comandado pelo adversário derrotado por Collor,
Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, aquele mesmo advogado e
tribuno deixou a condição de coadjuvante para ascender
ao estrelato na condição de protagonista do maior
escândalo de corrupção da História da
República, que ele mesmo apelidou de "mensalão".
A trajetória desse líder político,
forjado nos fóruns criminais da Baixada Fluminense e no show
populista de televisão O povo na TV, chegou ao mercado editorial
na forma do livro Nervos de aço, que registra o depoimento
do deputado federal cassado dado ao escritor Luciano Trigo e foi
lançado pela editora carioca Topbooks. Sob a égide
da mesma Constituição, outorgada em 1988, os presidentes
a que serviu o autor do livro tiveram destinos opostos: um foi deposto
pelo Congresso acusado de corrupção pela secretária,
pelo motorista e pelo próprio irmão. Após cumprir
o prazo estabelecido pela lei, ele acaba de voltar ao Senado pelo
voto popular de seu Estado natal, Alagoas. Enquanto o outro, beneficiado
por um tal efeito Teflon, não teve a faixa presidencial emporcalhada
por resquícios da lama atirada contra a cúpula dirigente
do partido que fundou e alguns auxiliares, entre os quais os dois
mais importantes membros do primeiro escalão: o ex-chefe
da Casa Civil José Dirceu e o ex-ministro da Fazenda Antônio
Palocci. Reeleito, ele se deu ao luxo de confessar os ilícitos
na última reunião do Diretório Nacional petista.
Defesa e acusação
Atuante na CPI que levou um à deposição
e nas que mal nenhum fizeram ao outro, o senador Pedro Simon (PMDB-RS),
diz sempre que Collor deu todas as condições ao Parlamento
para investigá-lo, enquanto Lula fez de tudo para impedir
a incriminação dos suspeitos. Personagem importante
nos bastidores nos dois processos (defensor no primeiro e principal
testemunha de acusação no segundo), o presidente nacional
afastado do PTB deu no livro um testemunho valioso para a História,
ao denunciar uma complexa rede de favorecimentos pessoais e distribuição
de dinheiro vivo para comprar a adesão parlamentar de aliados
e calar adversários recalcitrantes. Os governistas alegam
que ele nada provou. Mas também nada do que ele disse até
agora foi desmentido.
Loteamento e privatização
O depoimento de Jefferson é um coerente
e verossímil relato de como funciona o esquema de troca de
favores e compra de facilidades que depaupera o Erário e
fragiliza nossas instituições desde sempre, sobrevivendo
ao rodízio do poder, mesmo quando isso implica uma guinada
ideológica na elite dirigente. Não se trata de algo
meramente circunstancial, mas o registro factual que disseca e radiografa,
de forma implacável, as estruturas apodrecidas sobre as quais
se apóia o Estado brasileiro, sob quaisquer regimes. Quando
a tormenta política de 2005 for apenas um capítulo
na História do Brasil, seu relato será fundamental
para qualquer estudioso interessado em conhecer como o patrimonialismo
loteia e privatiza a máquina pública federal neste
País.
A vantagem do livro
A vantagem do texto editado em livro sobre os
depoimentos dados a jornalistas e colegas parlamentares pelo autor
é que, já punido por seus "nobres" pares,
Roberto Jefferson se sentiu desobrigado de atender a circunstâncias
específicas para atenuar a própria punição
e deixou de procurar atenuantes para beneficiar personagens. Os
encontros mantidos com o presidente e alguns de seus ministros,
por exemplo, foram reconstruídos integralmente pela memória.
E a confissão minuciosa do próprio crime de trocar
dinheiro por apoio político se dá sem autocomiseração
nem piedade com os outros protagonistas. Além disso, o autor
dá pistas para bons entendedores sobre temas delicados como
a origem do dinheiro que financia as campanhas politicas brasileiras.
Muito além do vídeo
As 376 páginas do livro traçam
um retrato fiel do submundo da política nacional. Ele não
se limita ao tempo em que os fatos narrados ocorreram, mas faz a
sociologia realista de como o poder é exercido nas brechas
da lei num Estado de Direito viciado por séculos de mandonismo
sob diversos rótulos ideológicos. A leitura sem preconceito
do depoimento do ex-amigo que delatou as ações entre
amigos ajuda mais a quem busca entender o que ocorre nos porões
palacianos que os discursos de campanha ou as entrevistas com promessas
e boas intenções dos mandatários que os povoam.
Ele narra um pedaço podre, mas real, do Brasil que os filmetes
dos programas eleitorais gratuitos na televisão não
documentam.
O malogro da estratégia de amordaçar
com o Conselho Federal de Jornalismo e a Ancinav os jornalistas
que incomodassem a companheirada no poder federal na primeira gestão
de Lula levou Luiz Gushiken, dela encarregado, à companhia
de José Dirceu e Antônio Palocci no cadafalso dos ex-comissários
que tombaram pelo caminho. Na segunda, esta mesma tarefa acaba de
ser transferida para a chefa da casa Civil, Dilma Rousseff, mais
competente e determinada que ele. Paradoxo terrível, o de
a "neodemocracia" pôr em risco o Estado de Direito
fingindo servir ao povo em cujo nome o poder é exercido.
E ironia incrível esta de a liberdade de imprensa ser ameaçada
pela queda de um dignitário que ela derrubou.
Tribuna da Imprensa, 28 de setembro
de 2006
Coluna Hélio Fernandes
3 dias antes da eleição, sai o
livro de Roberto Jefferson
Libelo, drama, audácia, suicídio
e assassinato
Conheci Roberto Jefferson no "Povo na TV".
Fizemos alguns programas juntos, não me impressionou. Jamais
imaginei que 25 anos depois, ainda através da televisão,
eu ficasse 7 horas em silêncio (como todo mundo) ouvindo ele
falar. Me impressionou. Também não podia sequer pensar
que, tendo recebido seu livro ontem, devorasse todas as 375 páginas
(embora esteja acostumado), pois precisava escrever estas notas
e comentários antes da eleição.
No dia 5 de julho de 1922, depois da louca e
maravilhosa aventura dos 18 do Forte, o presidente Epitácio
Pessoa foi visitar os feridos no Hospital Central do Exército.
Diante da cama do tenente Eduardo Prado, com a barriga toda enfaixada
(ferido por metralhadora), o presidente disse, quase sussurrando:
"Tanta bravura por uma causa inglória". Eduardo
Prado rasgou as ataduras, morreu na hora, horrorizando o presidente.
Lendo, lembrei dos dois fatos. E se Roberto
Jefferson não se enquadra (e provavelmente nem quer)
no personagem Epitácio Pessoa, querendo ou não querendo
repete o bravo tenente de 1922. Pois, ao estraçalhar toda
uma ordem política vigente, obviamente ele arrancava as ataduras
que mantinham sua vida. E nada foi surpreendente para ele, que sempre
deixou bem claro: "Eu sei que serei cassado". E com isso
empolgou o país.
O livro (Editora TOPBOOKS, do
José Mario Pereira) foi admiravelmente simplificado por Luciano
Trigo, que modestamente, na capa, aparece como o jornalista que
recebeu o depoimento. É mais do que isso. É evidente
que sem Roberto Jefferson, sem o que eu chamo de "suicídio
direto e assassinato ainda mais direto e implacável",
não haveria o livro. Mas ele poderia ter escolhido para dar
seu DEPOIMENTO um jornalista que pretendesse ofuscar o autor, e
aí estaria tudo perdido. Luciano Trigo teve a percepção
correta e irrefutável de que o seu sucesso estava ligado
indissoluvelmente ao sucesso da narrativa. O que já conseguiu.
O livro, Nervos de aço,
de acordo com o episódio contado pelo próprio Jefferson,
não é repetição de nada. Nem das 7 horas
que falou, nem das inúmeras e incessantes entrevistas que
foi concedendo, depois que se transformou em nome nacional. Apareceu
bastante na televisão (antes), se elegeu para 6 mandatos,
não concluiria o último, precisamente aquele que lhe
daria repercussão nacional.
Claro que muito do que Jefferson falou em jornais
e televisões, depois da denúncia única na história
nacional, aparece no livro. Nem podia acontecer de outra maneira.
O episódio memorável de um deputado publicamente apontar
a arma para si mesmo e atirar certeiramente em gente que se considerava
inatingível e intocável é um espetáculo
incomparável. Indescritível. Irrevogável? Incompreensível?
Inacreditável?
O livro é incendiário, deixa carbonizados
os personagens que aparecem. Não é feito de previsões
e sim de constatações. Roberto Jefferson não
teve dúvidas sobre seu próprio futuro, mas massacrou
antecipadamente os que foram revelados. A começar por José
Dirceu, o mais poderoso de todos, e terminando em Antônio
Palocci. Os dois, citados com reverência pelo próprio
presidente Lula. Que não compareceu ao enterro deles, embora
tivesse assinado o atestado de óbito. O presidente assinou,
mas quem fez a autópsia foi Roberto Jefferson.
As 7 horas do depoimento na Câmara e as
diversas entrevistas em jornais e televisões não estão
sumarizadas e sim ampliadas no livro. É uma história
penosa, mas heróica. Dilacerante, mas emocionante. Destrutiva,
mas abrindo caminho para uma possível caminhada construtiva.
E não apresenta nada de definitivo, nem mesmo para o próprio
Jefferson. Quem diz que ele não ressurgirá? Aqueles
que foram fulminados não voltarão. O destino dele
também será esse?
PS - Foram horas e horas de
leitura. Não fiz um julgamento, chamei a atenção
para o que estava no livro IMPERDÍVEL.
PS 2 - Reconheço que
está preparada a pauta para o julgamento de 126 milhões
de eleitores. Esses é que darão a última palavra
no domingo. Se puderem ler o livro antes, ótimo. Se não
puderem, deixarem para depois, não tem importância.
Em 375 páginas, Roberto Jefferson radiografou,
com aparelhagem especial, o que poucos já haviam visto. As
entranhas mais sujas dos últimos 10 anos de Poder estão
à vista de todos.
O Estado de S. Paulo, 23 de
setembro de 2006
Jefferson conta em livro: Lula sabia
Ex-deputado lança "Nervos
de Aço" e prevê segundo mandato "dramático"
Gabriel Manzano Filho
Bom de cena, hábil domador de holofotes,
o ex-deputado Roberto Jefferson escolheu a última semana
da campanha eleitoral para voltar aos palcos da mídia e,
num bem organizado relato de 375 páginas, reviver seu melhor
momento político: a crise do mensalão de 2005, da
qual foi herói, vilão, mestre de cerimônias
– e, agora, narrador. Nervos de Aço –
Um retrato da política e dos políticos no Brasil,
suas memórias do período entre janeiro e setembro
de 2005, chegou às livrarias neste fim de semana (Topbooks,
R$ 39,90) como um forte libelo, do começo ao fim –
não só contra o governo Lula, mas contra o PT e seus
projetos políticos. Ao final, de olho nas urnas de 1º
de outubro, ele faz sua previsão: se o presidente Lula for
reeleito, "o segundo mandato será dramático.
Ficou tudo muito visível".
Clientelista calejado, advogado talentoso, o
Jefferson do livro é o mesmo das tribunas e da TV: um contador
de casos de fala fácil, um guerreiro que, de tanto ganhar
e perder, não tem medo de idéias nem de palavras.
Por isso seu depoimento, organizado em 17 capítulos pelo
jornalista e escritor Luciano Trigo, traça uma radiografia
rara, convincente – com os devidos descontos de ser absolutamente
individual – da recente política brasileira.
É uma metralhadora giratória incessante.
"Não podia acusar diretamente Lula", diz sobre
a velha questão da responsabilidade do presidente no episódio,
"mas hoje penso que Lula sabia de tudo. Qualquer um que tenha
convivido com a cúpula do PT sabe qual é a cadeia
de comando ali", diz ele em um dos trechos mais contundentes,
que assim prossegue: "Não teve (o presidente) real compromisso
com o País, além do palavrório vazio, sem apoios,
sem noção, sem compostura. Sem, infelizmente, vergonha".
Dramático, ele relata a história
dos R$ 4 milhões que o PT teria prometido, e jamais entregue,
ao seu PTB. "Cometi o suicídio político. Saltei,
mas levei comigo, pela mão, os meus algozes. Dei uma de talibã:
enchi a roupa de bombas e entrei no avião do Lula, disposto
a explodir tudo". Foi por causa desse dinheiro, que, enfim,
ele foi cassado, a 14 de setembro. Numa série de vaivéns,
quase brincando, ele deixa no ar um mistério sobre esse dinheiro:
"Politicamente recebi, tecnicamente não" (...).
E ao fim lava as mãos: "Se eu disse (uma mentira), nunca
uma dissimulação teria sido tão imperiosa,
tão justificada".
AUTORITARISMO
(...) Seu relato é importante pelo eixo central que vai construindo,
ao longo dos capítulos: a idéia de que o mensalão,
"um processo de fidelização da base aliada por
meio de mesada a parlamentares", não apenas se encaixava,
mas era necessário, inevitável, na estratégia
petista. O PT, diz ele, montou "uma corrupção
orgânica e uma gatunagem sistêmica". Ao invés
do corrupto tradicional, que "aproveita as brechas", surgiu
outro, que rouba "por ideologia e desmonta o Estado por dentro".
A idéia era "alugar parlamentares,
para não compartilhar o poder" – e o mensalão,
que já existia (Jefferson reproduz as primeiras evidências
dele, no governo anterior), ganhou força, para aplacar as
insatisfações dos que não tinham mais, depois
da ascensão da dupla Lula-Dirceu, o poder para nomear. Os
projetos "vinham fechados do Planalto" e o Congresso virou
"um mero homologador". E foi o empenho do PT nessa operação
que, segundo ele, quebrou uma rotina que funcionava bem. E isso
se deveu ao descaso, ou incompetência, de José Dirceu,
a sua vítima predileta. "Eu não traí o
José Dirceu", garante. "Ele é que não
foi leal comigo". (...)
IstoÉ Dinheiro, 25 de setembro de 2006
A volta do homem-bomba
|
Nessa reta final da campanha
presidencial, em que o presidente Lula se vê diante
de mais um terremoto político, um velho fantasma voltou
a assombrar o PT. É Roberto Jefferson, o homem-bomba.
Jefferson acaba de lançar, pela editora Topbooks, o
livro Nervos de Aço, escrito com a
colaboração do jornalista Luciano Trigo. Numa
narrativa fluente, ele oferece a interpretação
mais coerente para a maior crise política da história
recente – até porque contada por um de seus protagonistas,
que não omite nem os próprios pecados.
Na gênese do escândalo, Jefferson
revela por que fechou um acordo de R$ 20 milhões entre
o PTB e o PT, diz como foi traído por José Dirceu
e ensina como os cargos públicos nas estatais são
usados para arrecadar recursos para os partidos políticos. |
O ex-deputado conta ainda
como uma nomeação, a de Francisco Spirandel,
do PTB, para o lugar de Dimas Toledo, em Furnas, poderia ter
evitado a crise. Isso porque o cargo de Dimas, de onde seria
possível arrecadar R$ 3 milhões por mês,
é um dos mais rentáveis da República.
(...)
Jefferson revela ainda o teor de uma conversa
privada com o senador Jorge Bornhausen, do PFL, no auge da
crise do mensalão. Este lhe disse que tucanos e pefelistas
desistiram de buscar o impeachment de Lula não por
falta de motivos jurídicos ou de ressonância
popular, mas por um cálculo político: acreditavam
que, se o vice José Alencar assumisse o poder, seria
um candidato imbatível nas eleições deste
ano.
No fim do livro, Jefferson explica de forma
precisa por que perdeu o mandato. “Fui cassado por cometer
o delito de abrir o esgoto a céu aberto, e deixar a
substância pestilenta vir à superfície.
Quanto mais mexeram, pior ficou o odor”, disse ele.
“E o que fiz foi tido como imperdoável aos olhos
dos meus pares, pois transgredi a lei do silêncio, a
omertà que impera na política brasileira”.
Por Leonardo Attuch |
|
O Tempo, Belo Horizonte, 24
de setembro de 2006
O primeiro livro de Roberto Jefferson
DENISE MOTTA
Ele expôs o mensalão, desafiou a
alta cúpula do PT e provocou a queda do então ministro-chefe
da Casa Civil, José Dirceu. Está afastado da política
desde setembro de 2005, quando teve seu mandato de deputado federal
cassado. Agora, às vésperas das eleições,
ele está de volta: nas livrarias.
O primeiro livro de Roberto Jefferson, Nervos
de Aço (Editora Topbooks, R$ 39,90), chegou às
lojas (...). Uma das principais revelações é
o diálogo que seu autor diz ter travado com o presidente
Lula, na presença de José Dirceu e do ministro do
Turismo, Walfrido dos Mares Guia. (...)
Roberto Jefferson afirma que escrever um livro
não foi planejado. “Gostei, mas não quero badalação.
Isso, para mim, é mais uma satisfação à
minha cidade (Petrópolis-RJ), à minha família,
amigos e eleitores. O que o livro vai fazer não me importa.
Eu não estou preocupado em ganhar dinheiro com ele”,
disse. (...)
• RELAÇÃO COM O PT
“Me preparei para enfrentar o PT, sabendo como enfrentar.
Já tinha enfrentado o partido na CPI do Collor. Já
sabia como o PT joga e foi uma coisa boa. Sempre fiz oposição
ao PT, desde meu primeiro mandato. Só agora houve essa aproximação
do PT com o PTB. Eu era contra e continuo contra, apesar do Walfrido
(dos Mares Guia, ministro do Turismo) estar lá agarrado com
o Lula no ministério. Ele (Walfrido) é pré-Lula.
Ele não é PTB. O partido dele é o Partido do
Turismo Brasileiro. Vou continuar combatendo esse alinhamento do
partido com o governo Lula porque eu entendo que o PTB perdeu muito
mais do que ganhou”.
• CORRUPÇÃO NO BRASIL
“Dos governos com os quais convivi, esse é
o mais corrupto. Essa coisa do PT de plantar informações,
desestabilizar pessoas, dizimar imagem pública, vem lá
de trás. O PT sempre jogou assim e, no governo, abusa de
fazer isso. Esse negócio do mensalão existe em cidade
pequena, em Câmara no interior, em que o prefeito dá
R$ 5 mil para cada vereador por mês, para uma maioria que
ele administra. Mas na Câmara dos Deputados, vitrine do Brasil,
foi a primeira vez que vi. O PT transformou a Câmara dos Deputados
em uma Câmara de Vereadores de quinta categoria”. (...)
• JOSÉ DIRCEU NOS BASTIDORES
“O Ricardo Berzoini (presidente do PT e coordenador
da campanha de Lula, demitido semana passada) é continuação
do Zé Dirceu até nas práticas. São as
mesmas que do mensalão, agora, no “Dossiê Gate”
(em referência à comparação com o caso
Watergate, feita pelo ministro Marco Aurélio Mello, do TSE).
Um dia antes de a denúncia sair na revista “Isto É”,
o Zé Dirceu antecipou no blog dele a matéria do Vedoin
contra o Serra. Claro que ele estava na operação.
(...)”.
• ENVOLVIMENTO DE ONGS
“Organização não governamental
(ONG) não tem fiscalização pública,
é uma esperteza para drenar recursos do Estado. Era empreiteira,
depois agência de publicidade e, agora, ONG. Mudaram só
os veículos e os operadores, mas as práticas são
iguais. (...) Já se tentou fazer no Congresso uma CPI de
ONGs. Mas aí dizem que isso é atentado à democracia.
Virou uma bagunça. As ONGs são uma fonte inesgotável
de corrupção”. (...)
• CASSAÇÃO
“Eu sou muito novo, tenho 53 anos, estou no auge
da minha capacidade intelectual, da minha capacidade espiritual
e física. Nos primeiros meses, me abati. É como se
eu estivesse numa Ferrari, tipo o Schumacher, a 300 km por hora
no final da reta, e metesse o pé no freio. Desacelerei muito
rápido. Me deu um vazio, mas depois comecei a advogar de
novo, cantando muito, que é uma coisa que me relaxa. Tenho
acompanhado muito Cristiane, minha filha, e o Marcos Vinícius,
meu genro, que são candidatos, ele a deputado estadual e
ela a federal. Isso me mantém vivo”.
• INTERNET
“Estou escrevendo um blog que está “bombando”,
o www.blogdojefferson.com.
Já tem 110 mil acessos. É essencialmente político.
Ele é poderoso, duro e pega firme no PT e no governo Lula”.
• BANALIZAÇÃO DA CORRUPÇÃO
“Lula banalizou a corrupção. Quando
ele disse em Paris que era comum, que todo mundo faz caixa 2 no
Brasil, ele transformou isso em uma coisa natural e o povão
achou que está bom. Ele estabeleceu no Brasil a política
do rouba, mas faz”. (...)
Folha de S. Paulo, 23 de setembro
de 2006
Em livro, Jefferson envolve Lula e Dirceu
com dinheiro de Furnas
SERGIO TORRES
Em Nervos de Aço, livro que acaba de lançar,
o ex-deputado federal Roberto Jefferson diz que contou ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva que o PT e o PTB tinham acertado
partilhar R$ 3 milhões arrecadados de empresas prestadoras
de serviço à estatal Furnas Centrais Elétricas.
(...)
Jefferson conta sobre seu último encontro
oficial com o presidente. Era a manhã de 26 de abril de
2005. No Palácio do Planalto, Lula quis saber a razão
de o então diretor de Engenharia e Planejamento de Furnas,
Dimas Toledo, não ter ainda sido substituído por
um indicado pelo PTB, como acertado anteriormente.
"Roberto, por que está demorando tanto? Por que vocês
não trocaram ainda, rapaz? Eu não quero manter esse
cara lá. Por que ainda não saiu a nomeação
do PTB? Vamos nomear o [Francisco] Spirandel?", teria dito
Lula a Jefferson, que afirma ter sugerido ao presidente que Toledo
fosse mantido. "Lula não gostou: 'Pô, como é
que é? Mas por quê? Vocês já estão
fazendo acordo?' 'Já.' 'Que acordo é esse?', ele
quis saber. 'Qual foi o acordo que vocês fizeram, porra?'."
(...)
Jefferson explicou o que era o acordo. (...) Segundo ele, (...)
Lula se irritou com a explicação e não a
aceitou. "Aquele senhor está traindo o governo, está
fazendo o jogo do governador de Minas Gerais, e eu não
quero a permanência dele. (...) Se você não
tirar eu tiro e ofereço a outro partido. Tem que tirar!",
teria dito o presidente, mandando, a seguir, Dirceu nomear Spirandel.
O Palácio do Planalto foi informado do conteúdo
do livro, mas não havia se manifestado até a conclusão
desta edição. José Dirceu não quis
falar sobre o livro, informou sua assessoria.
REVISTA ÉPOCA ONLINE (23.9.2006)
NERVOS DE AÇO
"A única pessoa que nunca
traiu o Lula foi a dona Marisa”
POR MARCIO ORSOLINI
O deputado cassado Roberto Jefferson volta à
cena a uma semana das eleições. Neste sábado
chegou às livrarias Nervos de Aço –
Um retrato da política e dos políticos no Brasil,
da Topbooks. O livro de 375 páginas faz um
balanço dos últimos 15 anos da história política
no Brasil, com destaque para a crise do governo Lula.
A obra foi escrita com base nos depoimentos
prestados às CPIs, à Comissão de Ética
da Câmara dos Deputados e em reportagens publicadas pela imprensa.
"Eu tinha também todos os depoimentos em vídeo,
além das entrevistas que eu dei", diz o ex-deputado.
Segundo ele, a idéia do projeto partiu do jornalista e escritor
Luciano Trigo, co-autor da obra. "Eu não queria fazer
o livro, mas o Luciano me convenceu da importância de documentar
esse momento histórico", diz. "Foi difícil
porque é um assunto que gera muita raiva."
De fevereiro a agosto deste ano, a dupla se debruçou
sobre as informações para escrever o volume. Depois
de cerca de 25 encontros e muitos e-mails, Nervos de
Aço ficou pronto. Roberto Jefferson falou com
exclusividade à ÉPOCA Online sobre
o livro e sobre a atual situação política no
país.
ÉPOCA Online - A que conclusões
o senhor chegou depois de rever todos os dados sobre a crise para
escrever o livro?
Roberto Jefferson - Não existe paladino da ética,
ninguém tem o monopólio da ética. Todo mundo
tem defeitos e todo mundo tem qualidades. (...)
ÉPOCA Online - Qual a intenção
do livro?
Roberto Jefferson - Ele é muito duro,
é um retrato sem retoques da política. É uma
coisa muito crua. É uma coisa que reacende ódios,
mas é importante frisar que tudo aconteceu como está
ali. (...)
ÉPOCA Online - Para você,
o que mudou no cenário político desde as primeiras
denúncias da crise?
Roberto Jefferson - Eu acreditei, sinceramente,
que o governo tinha mudado. Acreditei que o Lula era bem-intencionado,
que ia corrigir o ritmo. Pensei que o Lula fosse botar um ponto
final. Mas, pelo que vejo, o Palácio chafurdou de novo no
mar de lama. Daqui a pouco aparece um escândalo com o garçom
do Palácio. E o pior é que Lula diz que não
sabia. Não dá mais para acreditar nisso. (...)
ÉPOCA Online - Qual é o
ponto mais frágil da política?
Roberto Jefferson - A mentira está chegando
a um ponto insuportável. O [Aloizio] Mercadante
[candidato ao governo de São Paulo pelo PT] não
sabia que o coordenador da campanha dele estava comprando o dossiê
para destruir o Serra. O Lula não sabia que a turma que faz
comida para ele e que faz a segurança pessoal dele estava
armando essa história de dossiê para atrapalhar o Alckmin.
O PT era paladino da ética e se tornou campeão da
mentira. Todos, até o Lula. Tudo tem limite, até o
direito de negar tem limite. A única pessoa que tem virtude
nas relações com Lula é a dona Marisa, que
nunca traiu ele. Os outros, meu Deus do céu... (...) |