Rio+20 - Ponto de Vista
A CONSPIRAÇÃO DOS VERDES
Provocador, o jornalista inglês James Delingpole,
um dos maiores divulgadores do ceticismo científico em relação
ao aquecimento global, diz que a tese dos ambientalistas se tornou
uma enorme indústria e que sob ela se oculta um programa
político global contrário à democracia
Jerônimo Teixeira
O jornalista inglês James Delingpole é
um dos mais destacados céticos do aquecimento global provocado
pelo homem. Em 2009, quando vazaram e-mails nos quais pesquisadores
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC) combinavam manipulações de dados, Delingpole
popularizou, em seu blog no jornal The Telegraph, a expressão
"climagate", referência a Watergate, como é
conhecido o escândalo que derrubou o presidente americano
Richard Nixon. Delingpole é um provocador, mas mesmo suas
provocações mais extremas são embasadas em
fatos. Em Os Melancias (leia resenha abaixo), ele
faz questão de citar estatísticas segundo as quais
a população de ursos-polares – que se tornaram
um ícone intocável do alarmismo contra o aquecimento
global – permanece estável. Na entrevista a seguir,
Delingpole é categórico: o aquecimento global nunca
foi uma questão científica, mas sim política.
Da sua perspectiva de cético, a conferência Rio+20
faz algum sentido?
Não. É uma irrelevância, uma distração
dos problemas reais, como a atual crise econômica, que pode
ser a maior que o mundo já enfrentou. E o que é nojento
nessa baboseira do Rio é que o ambientalismo, de certo modo,
é uma das causas da crise. A maior parte das pessoas, de
todos os quadrantes do espectro político, deseja um mundo
limpo, gosta de biodiversidade e não quer ver mais espécies
extintas. Mas o ambientalismo tem sido usado para propósitos
muito diferentes. Tornou-se um ataque ao sistema capitalista e à
liberdade de mercado. Isso ajudou a incrementar taxações
e regulamentações que se revelaram um suicídio,
e que estão aprofundando a crise.
De que modo o ambientalismo exerce impacto econômico?
A pior coisa que o ambientalismo fez ao mundo foi lançá-lo
na busca das chamadas "energias alternativas". Temos a
grande mentira do aquecimento global antropogênico, essa ideia
de que o CO2 está aumentando a temperatura global de forma
catastrófica. É ciência fajuta, um artigo de
fé religiosa que não resiste a um escrutínio
científico cuidadoso. Isso levou à ideia de que os
combustíveis fósseis são ruins. Essa noção,
por sua vez, pressionou governos de todo o mundo a substituir suas
fontes tradicionais de energia – petróleo, gás,
carvão – por fontes caras e pouco confiáveis,
como energia solar e eólica. A energia, por consequência,
se tornou mais cara para o consumidor individual e para a indústria.
Faltam estudos para quantificar isso, mas diria, tirando um número
da cartola, que a energia hoje está 20% ou 25% mais cara
do que deveria custar. E isso exerce um impacto negativo sobre o
PIB dos países tolos o bastante para adotar novas políticas
de energia. É claro que a China ou a Índia não
estão fazendo de tudo para se adequar ao Protocolo de Kyoto.
São os países da União Européia e os
Estados Unidos de Obama que caíram nesse surto de histeria
coletiva.
Passados já três anos do escândalo do climagate,
qual a extensão do dano para os que defendem a tese do aquecimento
global produzido pelo homem?
Se você acredita nos cientistas pegos na mentira, o climagate
foi só um bando de cientistas batendo um bom papo. Mas qualquer
um com um grama de integridade que examine os e-mails vazados só
pode concluir que está diante de um golpe, de uma fraude
lamentável. Os cientistas envolvidos não eram pesquisadores
de segunda categoria, mas figuras de enorme relevância no
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC). O presidente Obama descreveu o IPCC como o "padrão-ouro"
da ciência climática. Portanto, esses cientistas têm
uma responsabilidade enorme. Se eles erram, o mundo sofre, pois
políticas globais são feitas a partir das predições
deles. E o que vemos nas mensagens eletrônicas é que,
em privado, esses cientistas estão muito menos seguros da
ameaça do aquecimento global do que eles professam em seus
relatórios públicos. Exageram a ameaça por
razões políticas. Comportam-se, assim, mais como ativistas
do que como cientistas. Houve vários inquéritos sobre
o climagate – e adivinhe só: todos isentaram os culpados.
Foi assim porque há muito dinheiro na indústria da
mudança climática. Homens públicos como Al
Gore construíram a carreira em torno dessa fraude, e instituições
financeiras como a Goldman Sachs já lucraram com compensações
de carbono. Ninguém quer ver a fraude exposta.
O ambientalista James Lovelock recentemente admitiu que as previsões
mais catastróficas sobre aquecimento global estavam erradas.
Isso representa um golpe para o movimento ambientalista?
Sim. Para os verdes, Lovelock é um guru, um profeta do Antigo
Testamento. Ele, afinal, inventou a Hipótese Gaia, que James
Cameron usou em Avatar: tudo se conecta, o planeta todo é
um organismo vivo em que tudo se inter-relaciona. É uma ideia
persuasiva. O problema é que muitos ambientalistas acreditam
que o homem não tem lugar algum nessa biosfera, e que Gaia
estaria muito melhor sem ele. Há um componente misantrópico
forte no movimento verde. Nos anos 70, o Clube de Roma (think
tank dedicado a temas ambientais fundado em 1968) já
dizia: "A Terra tem um câncer, e o câncer é
o homem".
O senhor consegue imaginar outros expoentes do movimento verde
revisando suas posições?
Nos próximos anos, cientistas de caráter vão
admitir que os dados não sustentam suas conclusões.
Mas duvido que pessoas como Al Gore revisem suas posições.
Elas estão muito comprometidas com a causa, e não
são cientistas. O debate sobre aquecimento global, aliás,
nunca foi científico, e sim político. O debate científico
está encerrado. A temperatura da Terra segue seus ciclos.
As emissões de carbono aumentaram dramaticamente desde os
anos 90, mas a temperatura não subiu no mesmo ritmo. Não
há correlação óbvia entre as duas coisas,
e os que propõem causas humanas para o aquecimento não
conseguem explicar essa disparidade de forma satisfatória.
E qual seria a agenda política do movimento verde?
É a exploração da histeria pública para
contornar o processo democrático. No lugar de representantes
eleitos, eles querem que burocratas e tecnocratas sem rosto de órgãos
como as Nações Unidas determinem que caminhos o mundo
deve seguir. A ideia é que a salvação do planeta
é tão importante que não pode ser confiada
a indivíduos, nem sequer ao governo de cada país.
Seria preciso uma elite iluminada, do alto de uma espécie
de governo global, para fazer o que é certo. Seria, claro,
um fascismo global. Não acredito em teorias da conspiração,
mas essas ideias estão nos textos de referência do
movimento ambiental – por exemplo, nos livros do Clube de
Roma e nos textos de Maurice Strong, idealizador da Eco 92.
Pode existir um ambientalismo conservador?
Claro. Conservadorismo, afinal, diz respeito à conservação.
Eu sou um amante da natureza. Caço raposas, e caçadores
querem que a natureza seja preservada – se você matar
todos os animais, não haverá nada para caçar
no futuro. O próprio movimento ambientalista já conseguiu
grandes feitos. Fez com que as indústrias parassem de lançar
dióxido de enxofre na atmosfera e poluentes nos rios. Mas
o pânico do aquecimento global está nos desviando das
questões verdadeiras. A pesca predatória, por exemplo,
é um desastre. A escassez de água potável também
é um problema sério. Para resolver essas questões,
é preciso saber que, ao contrário do que prega o movimento
ambientalista, crescimento econômico e preservação
não são incompatíveis.
Sua militância cética é financiada por alguma
grande empresa de petróleo?
Quem me dera! Há pessoas ganhando fortunas para dar um verniz
ecológico a grandes empresas. São financiadas até
pela Shell. Se eu estivesse atrás de dinheiro, seria um ecomaluco,
não um cético.
RESENHA DO LIVRO
OS PROCURADORES DO APOCALIPSE
O jornalista inglês James Delingpole,
mais que um cético em face do movimento ambientalista internacional,
é, em seu blog no jornal The Telegraph e agora em
Os Melancias (tradução de Gleuber Vieira;
Topbooks; 320 páginas; 46,90 reais), recém-lançado
no Brasil, um de seus mais articulados críticos.
Delingpole tem-se mostrado capaz de desmontar
as contradições e mentiras relativas è pseudociência
politizada, ao aquecimento global antropogênico e às
soluções para esses supostos problemas, propostas
sob nomes inofensivos como "crescimento sustentável".
O título do livro se refere aos militantes
mais exaltados que, verdes por fora e vermelhos por dentro, alegam
defender baleias e florestas, índios e geleiras, mas desejam
mesmo acabar com o capitalismo, tal como a esquerda revolucionária
tradicional (embora esqueçam que os comunistas ortodoxos
não abominavam a civilização industrial).
Em Os Melancias, Delingpole desvenda
a misantropia do ambientalismo: se muita gente gosta da natureza,
os ativistas mais fanáticos adoram nela uma divindade cruel
e vingativa e, autonomeando-se seus procuradores, consideram a espécie
humana um mal a ser erradicado.
Malucos, oportunistas em busca de verbas privadas
e públicas ou até a maioria de iludidos bem-intencionados
- todos apregoam a mesmíssima solução universal
já receitada antes para o imperialismo e a miséria,
para o hoje desmoralizado resfriamento global (a iminência
da chegada de uma nova idade do gelo era o desastre anunciado nos
anos 70) e para a atual epidemia de obesidade, a saber: a instalação
de governos cada vez maiores, mais fortes e menos representativos
que, capitaneados, de preferência, pela burocracia não
eleita da ONU, interfiram sem limites na vida privada das pessoas.
Sempre, claro, para o bem destas.
revista VEJA
20/02/2012
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