A "CEBOLA" LULA DESCASCADA
Neil Ferreira *
Fui ao lançamento do livro do Nêumanne,
O que sei de Lula, na Livraria da Vila, terça-feira.
Casa lotada, parecia Flamengo x Córintcha, gramei mais de
uma hora na fila de autógrafos. Não peguei uma fila
dessas nem para entrar no show em que Bob Dylan cantou uma das suas
obras-primas, “Like a Rolling Stone”, com ninguém
menos do que os Rolling Stones como "backing vocals".
Mick Jagger, emocionado, não escondeu que chorava. Nem eu.
Os cabecinhas brancas como a minha sabem do que
estou falando, tanto os da fila do show do Dylan e Jagger como os
da fila do Nêumanne; inúmeros frequentaram as duas
. Eu escuto “Like a Rolling Stone” como o hino da minha
geração, então jovem, sonhadora e desembestada,
ligada no Turn on, Tune in, Drop out ( Ligue, Sintonize, Caia fora).
Em brasileiro – Ligue: queime um fumito ou engula um moranguito
(LSD); Sintonize: encontre seu povo; Caia fora é literal,
é caia fora mesmo, fora do trabalho, da faculdade, dos horários,
das obrigações, das limitações no amor
e na vida, pé na estrada – a felicidade está
aqui dentro de mim, sim, mas também está lá
longe, no fim do arco-íris; "Sex, Drugs and Rock´n
Roll".
Estive lá, sobrevivi. Para citar um dos
filósofos prediletos dessa geração, o hoje
Caretano Veloso: "Eu quero é ir embora/ eu quero
é dar o fora/ e quero que você venha comigo..."
Li O que sei de Lula quando estava sob
a forma de primeiro "copião". Num passado não
muito distante a gente falava "manuscrito". Ele vem perfeitamente
digitado no computador e impresso numa veloz “laser jet”
caseira. Talvez falte apenas a capa e uma correção
aqui e ali para ser o livro pronto e acabado.
A leitura me deu a sensação de
ter tido acesso ao depoimento de uma acurada testemunha do nosso
tempo. Testemunha porque viu; testemunha porque entendeu o que viu,
interpretou, anotou, guardou, cozinhou em fogo brando e deu um depoimento
acima de qualquer suspeita.
Nêumanne junta os ingredientes há
36 anos, desde 1975, quando conheceu Lula – e passou os últimos
cinco anos atualizando, escrevendo e reescrevendo. A arte de escrever
é o ofício de reescrever, e seu tema faz-se passar
por novo e diferente a cada dia; denomina-se, pleno de narcisismo,
a "metamorfosa ambulanta". Não é; muito
ao contrário.
Nêumanne percebeu e revela que o mito metamorfósico
foi hábil e ardilosamente construído, camada sobre
camada de mito sobre o núcleo real, ignorante e mistificador,
como se Lula fosse uma cebola. Como uma cebola, descasca Lula até
desvendar o núcleo e expõe que, como Drácula,
Lula não resiste à luz – foi, é e talvez
sempre será o Mesmo, desde o começo até o fim
dos tempos.
Como descascar uma cebola, descascar Lula traz
lágrimas aos olhos. É um país de chorar esse
nosso. O personagem mais midiático destes nossos tempos,
mais até do que Che Guevara, usou como poucos os recursos
modernos de comunicação, pagos pelas mais poderosas
verbas oficiais de publicidade nunca antes vistas "nestepaíz",
para esconder quem realmente é e criar um mito, que é
desnudado com rigor.
O que sei de Lula (Topbooks) não
é um festival de porradas, o que seria muito fácil
e qualquer um poderia fazer a qualquer momento – até
eu alivio minha azia dando porradas no Lula para me divertir um
pouquinho, seguindo o mantra do Zé Simão, "nóis
sofre mas nóis si diverte". Nem é um trololó
e nhenhenhém louvador, como são os fracassados mas
altamente financiados livro e filme Lula, o filho do Brasil,
que todos fazem em todos os momentos, encabeçados pelo PIG,
Partido da Imprensa Governamental.
Nêumanne fez o impensável; impensável
pelo menos para mim. Trancou na gaveta sua posição
política – você nem de longe acertaria em quem
ele vota, eu sei porque ele me contou, e sei lá se não
estava gozando com a minha cara. Lidou apenas com os fatos, alguns
desconhecidos outros nem tanto, acumulados durante trinta e seis
anos.
Está lá, tudo junto. Você
e eu sabíamos de quase tudo e fazíamos de conta que
não era nada. Aquele grevista do ABC e aquele partideco de
católicos ditos "progressistas" e intelectuais
de ex-querda eram uma febrezinha que passava logo. Era, digamos,
uma espécie de adolescência política do País,
e, como a adolescência dos nossos meninos e meninas, era uma
chatice que sarava logo. Não sarou. Cresceu, encorpou, engrossou;
sobretudo engrossou.
O endeusamento a Lula virou uma pandemia que
contaminou os "mais de 80%", que parecem doentes incuráveis.
Não se tocam que se instalou aqui a maior corrupção
jamais vista; Lula aliou-se à escória política
brasileira; demorou mais que a Rede Globo para apoiar as Diretas
Já; foi contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Não apoiou a anistia nem a volta dos exilados. "Aqueles
caras que tão bebendo vinho em Paris vão voltar e
querer mandar ni mim", teria dito, e eu acredito.
Quer saber mais, muito mais? Compre o livro,
e bom fim de semana em companhia de uma leitura essencial.
SAIBA O QUE O NÊUMANNE SABE DO LULLA. VOCÊ NUNCA MAIS
SERÁ ENGANADO.
Neil Ferreira é publicitário
DIÁRIO DO COMÉRCIO
25/08/2011
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