LUIZ ROBERTO NASCIMENTO SILVA, AUTOR DE
"COM O SUOR NA ALMA"
Como surgiu a ideia do livro?
Luiz Roberto – Surgiu naturalmente. Eu
havia escrito alguns contos que estavam na gaveta. Sem que percebesse
por que, um deles passou a me interessar de forma particular. Na
versão inicial ele se chamava “Sofá suado”.
O desenvolvimento desse conto é que fez surgir a novela Com
o suor na alma.
Quanto tempo levou para escrevê-lo?
Luiz Roberto – Cerca de quatro anos. Eu
escrevo e publico pouco. Meu último livro saiu em 2005, ou
seja, há seis anos. Não tenho a obsessão de
produzir uma obra no sentido mais literal. Só publico o que
me parece efetivamente importante e que tenha passado por uma revisão
e uma decantação profunda. João Cabral dizia
o seguinte, com toda a razão: como, na maioria dos casos,
a literatura no Brasil não permite que se viva dela, isso
representa uma grande libertação, pois o escritor
pode publicar apenas o que julga ser essencial para ele.
Há uma clara referência marxista
no seu texto. Como encara isso?
Luiz Roberto – Acho perfeitamente natural.
Marx continua atualíssimo. Certamente nenhum outro economista,
nem mesmo Keynes, produziu uma revolução tão
importante no pensamento. A noção de que a história
da sociedade é a história da luta de classes é
demarcadora. O conceito da mais-valia, segundo o qual os trabalhadores
geram muito mais dinheiro do que recebem, continua atual. O que
ocorreu é que o Marx profético foi totalmente ultrapassado,
pois não imaginou a possibilidade de o próprio capitalismo
corrigir seus excessos.
Como o senhor gostaria que o leitor lesse
sua novela?
Luiz Roberto – Da forma mais livre possível.
Isso é fascinante no processo artístico: cada livro
é uma obra aberta na qual o leitor recria o texto à
sua maneira. Nesse sentido, o que o escritor pensou ou pretendeu
dizer deixa de ser importante; o fundamental é o que o leitor
sentiu ao ler. Não desejo falar sobre o livro em si mesmo.
Não me cabe explicá-lo. Quero que o meu leitor se
deixe levar por suas próprias emoções e tire
suas próprias conclusões.
Quais os autores que mais o influenciaram?
Luiz Roberto – Posso falar dos autores
que mais li e que mais admiro, mas não sei exatamente se
eles me influenciaram ou não. Julgo que todo escritor é
produto do que escreveu e do que leu. Vou me ater aos autores mortos,
pois a influência dos vivos é muito perigosa. Em matéria
de poesia, li muito João Cabral e Drummond. Em língua
estrangeira, Neruda, Maiakovski e Eliot. Na prosa, Machado, Eça,
Guimarães Rosa e Graciliano. Em língua estrangeira,
Stendhal, Flaubert, Kafka, Borges, Hemingway, García Márquez
e Sándor Márai. Repito: estes são os autores
que mais li, mas não sei em que medida me influenciaram.
O senhor publicou poesia por 35 anos e agora
estreia na prosa de ficção. Como se deu essa experiência?
Luiz Roberto – Naturalmente. Não
me organizei para escrever prosa. O desejo de retomar o projeto
do conto foi responsável por essa passagem. Tive um período
duro de aprendizado. O poema nasce mais ou menos pronto na sua cabeça,
mesmo que você passe anos trabalhando e retrabalhando o verso.
Mas a ideia central, o cerne cognitivo já vem naquele momento.
Por isso você pode se expressar completamente numa única
página. Na prosa não. Você tem que contar uma
estória, tem que prender o leitor à dinâmica
de sua narrativa. Os diálogos trazem as diferentes dicções
dos personagens. Além disso, esses personagens a partir de
um determinado momento adquirem vida própria, independente
de você como escritor. Alguns se recusam a morrer; outros
impõem modificações na estrutura inicial da
sua ideia.
Pretende agora publicar prosa de ficção
ou poesia?
Luiz Roberto – Não tenho a menor
ideia. Sempre que termino um livro tenho a impressão de que
não publicarei mais nada por conta do esforço obsessivo
na sua finalização. O tempo dirá. Nietzsche
afirmava que só acreditava naquilo que o escritor escrevia
com seu próprio sangue. É claro que devemos interpretar
essa frase no sentido metafórico, em que só prevalece
o que seja uma verdade íntima e permanente do autor. Todo
artista é uma antena que capta ondas do momento histórico.
Nesse sentido, o povo é um inventa-línguas; o escritor,
um cirurgião de palavras. Todo escritor está sempre
trabalhando em algum material inédito, mas só interessa
publicar o que tenha essa força específica.
|