| O ANTILIBERALISMO DE CONVENIÊNCIA E O RESGATE DA 'VIRTUDE' Novo livro diz que a elite tem responsabilidade por atual crise do país, ao apoiar populismo para obter vantagens José Fucs No momento  em que o Brasil atravessa uma das maiores crises de sua história, com reflexos  nos campos político, econômico, social e moral, um novo livro se propõe a jogar  luz na escuridão. Trata-se de“10  mandamentos: do país que somos para o Brasil que queremos” (Topbooks),  do cientista político Luiz Felipe d’Avila, lançado num concorrido evento  realizado no início de maio, em São Paulo, com as presenças do ex-presidente  Fernando Henrique Cardoso, do governador paulista Geraldo Alckmin e do  empresário Abílio Diniz, sogro do autor, entre outras figuras carimbadas.   No livro, d’Avila – que é  presidente do Centro de Liderança Pública (CLP), organização voltada à melhoria  da gestão governamental, e um dos poucos entre seus pares a não rezar pela  cartilha marxista – não faz apenas uma rica análise das razões que teriam nos levado  ao atual quadro de desalento. Ele também aponta, com argumentação consistente,  as possíveis soluções para tirar o país da crise – os seus 10 mandamentos. Entre elas, destacam-se a  adoção do parlamentarismo como sistema de governo, de um federalismo efetivo,  que vá além das formalidades legais, e de uma economia de mercado para valer,  em substituição ao capitalismo de Estado predominante hoje. Também fazem parte  de sua lista de propostas o resgate da “virtude” da política e o investimento  prioritário em educação – uma área capturada, em sua visão, pelos “interesses  corporativistas” dos professores, em prejuízo do aprendizado dos alunos. Em busca das raízes para o viés  antiliberal que prevalece no pensamento político e econômico nacional, d’Avila  mergulha nas narrativas do passado, produzidas pelo sociólogo Gilberto Freyre e  pelos historiadores Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior e Oliveira  Viana, autores de obras clássicas sobre a formação do Brasil. Segundo ele, Holanda ajuda a  conhecer melhor as origens do capitalismo de compadrio praticado no país, a  partir de sua análise sobre o papel do personalismo em nossa cultura. Freyre  contribui para explicar a impunidade dos poderosos e a concessão de privilégios  a diversos grupos sociais, ao traçar o perfil e avaliar a influência dos  senhores de engenho. Mas foram Caio Prado, pela  esquerda, e Oliveira Viana, pela direita, com suas ideias em defesa de um  Estado forte, centralizador e autoritário, que deram sustentação teórica ao  sentimento antiliberal que persiste até hoje, por meio do populismo, do  nacional-desenvolvimentismo, do protecionismo e do patrimonialismo estatal. A adoção desse modelo, de acordo  com d’Avila, não teria sido possível sem o apoio da elite política,  empresarial, artística e cultural do país, interessada na obtenção de vantagens  oficiais. Isso se confirmou nos governos Lula e Dilma, responsáveis pela  concessão de bilhões de reais em créditos subsidiados, isenções fiscais, ajudas  setoriais e reservas de mercado. D’Avila afirma no livro que a  mudança de mentalidade, de atitude e de comportamento da elite brasileira é um  dos maiores entraves para o país mudar de rumo e seguir um caminho mais  promissor. Mas ele acredita que a nova geração de brasileiros, que valoriza  mais a liberdade de escolha, deverá limitar cada vez mais o raio de ação do  governo e aumentar o poder e a autonomia do cidadão. Seria uma mudança mais que  bem-vinda. O ESTADO DE SÃO PAULO
 15/05/2017
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