| A BASE TEÓRICA DO FEDERALISMO AMERICANO Luciano Trigo  Política , de Johannes Althusius. 
              Tradução de Joubert Brízida A“Política” foi escrita no contexto da Reforma 
              protestante do século XVI, que abriu o caminho para a democracia 
              no Ocidente, ao lançar as bases de uma teologia que valorizava a 
              liberdade e a igualdade. Publicado em 1603, o livro constitui um 
              divisor de águas entre o pensamento medieval e as idéias políticas 
              do moderno Ocidente. Apesar de sua moldura teológica, trata-se da 
              primeira obra a apresentar uma teoria do federalismo republicano, 
              baseada nas idéias de associação simbiótica. Pregando a associação 
              dos cidadãos como a única base do Estado, Althusius analisou a política 
              segundo a idéia de pacto e de união contratual, limitada por leis 
              naturais. Apresentando a república como uma ordenação harmoniosa 
              de associações naturais, Althusius (1557-1638) afirma que os propósitos 
              do Estado são proteger e estimular a vida social. Dissolve as fronteiras 
              entre economia, sociedade e Estado, já que na base dos três estão 
              necessidades que levam à ajuda recíproca, à divisão do trabalho 
              e a relações comerciais que estabelecem a dinâmica da sociedade. 
              Graças ao sucesso do livro, Althusius foi nomeado, em 1604, síndico 
              de Endem, na Frísia Holandesa, uma das primeiras cidades a aderir 
              à Reforma. A partir de 1617, acumulou o cargo de chefe da igreja 
              local, exercendo as duas atividades até morrer. A influência que 
              exerceu em Endem foi comparada à de Calvino em Genebra. Althusius (Johannes Althaus) estudou filosofia 
              grega e direito romano em Colônia e na Basiléia. Calvinista influenciado 
              pela neo-escolástica de Salamanca, combinou elementos do direito 
              natural de Cícero com as teorias políticas de Aristóteles, segundo 
              as quais o poder e a autoridade nascem nas associações locais. A 
              família seria o núcleo do qual se originariam todas as associações 
              humanas: “A política é a arte de unir os homens entre si para estabelecer 
              a vida social comum, cultivá-la e conservá-la”, escreve. Depois 
              de séculos de ostracismo, sua obra foi recuperada pelos teóricos 
              que lutaram pela unificação da Alemanha segundo princípios federativos 
              e pelos americanos que conceberam o moderno federalismo. Caderno Prosa & VersoO GLOBO
 Rio de Janeiro
 01/11/2003
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