A INTERNET E O FUTURO DAS MÍDIAS
Marcio Salgado*
A internet está
promovendo a maior revolução a que o mundo já
assistiu, com reflexos na vida cotidiana e nas mais diversas áreas
do conhecimento humano. “O futuro da internet: o mundo da
dúvida” (Topbooks), do jornalista Hildeberto Aleluia,
apresenta argumentos e exemplos concretos que comprovam essa afirmação.
Com o advento da internet, as mídias tradicionais
passam por grandes mudanças a fim de sobreviver, e as consequências
são observadas desde já, mas são imprevisíveis
para as próximas décadas. Doravante, o rádio,
a TV e o jornal impresso jamais serão os mesmos.
No Brasil, de acordo com Aleluia, a internet
segue “absoluta na preferência dos leitores, e a cada
dia vai solapando os alicerces da velha mídia com a diminuição
das tiragens impressas e a queda da audiência no sistema televisivo”(p.
58). Essas mídias tentam se reinventar, em geral recorrendo
à própria internet, com chamadas para os seus sites,
blogs e páginas disponíveis em tempo real. A divulgação
das notícias hoje é instantânea e os veículos,
mesmo as revistas que contavam com espaço maior entre uma
publicação e outra, tiveram que se adaptar a essa
realidade.
Contudo, em termos econômicos, todas essas
mídias sobrevivem graças ao “modelo do negócio”,
conforme adverte o autor. “Chega a ser um espanto. Um negócio
que diminui a cada dia, apresentar um faturamento cada vez maior”(p.
113). Ele se refere à redução das tiragens,
ao declínio no número de leitores de jornais e revistas
impressos, e à queda de audiência das TVs e rádios.
Esses meios ainda dominam o mercado publicitário, permanecem
no topo do faturamento, pois contam com um sistema comercial bem
estruturado.
Na verdade, há uma briga de titãs
entre a internet e as mídias convencionais pela busca de
audiência, a conquista de novos públicos e, sobretudo,
pela redistribuição de anúncios comerciais
e aquisição de clientes no mercado. Conforme Aleluia,
a internet vai ganhando os primeiros rounds, tendo golpeado a mídia
impressa e destruído a indústria do disco e do CD.
No campo teórico as previsões são
incertas e bastante polêmicas. Alguns argumentam que as mídias
tradicionais estão vivendo os seus estertores. Outros, como
o americano Henry Jenkins, acreditam numa “cultura da convergência”
e numa possível sobrevivência das velhas mídias.
No livro “O futuro da internet”, Aleluia elenca as diversas
opiniões dos autores que expressam essas dissensões,
sendo que ele próprio cita exemplos que indicam o nítido
declínio das mídias tradicionais. E observa que os
jornais impressos são uma coisa do passado. Eles têm
um futuro terrível, mas não as notícias. Estas
estarão sempre em evidência nas mais variadas plataformas
de comunicação.
Um exemplo desse conflito atual dos veículos
de comunicação é a postura adotada pelos jornais
impressos com relação ao seu público-leitor.
Com a diminuição das tiragens, eles criaram os sites
de notícias e passaram a vender assinaturas. Em seguida estabeleceram
barreiras para a leitura grátis, mas a iniciativa se revelou
contraproducente. Aleluia observa que “os sites que começam
a cobrar perdem imediatamente o interessado que se transfere para
o grátis mais próximo”(p. 31).
Sobre a briga pela audiência entre a internet
e as redes de televisão as coisas não são diferentes:
“O You Tube está aí mesmo para tirar o sono
da TV”(p. 55). Essa disputa tem ganhado contornos dramáticos,
com as televisões apelando para todo tipo de expediente a
fim de conseguir elevar os índices de audiência.
Citado por Aleluia, o jornalista espanhol Juan
Luis Cebrián, diretor do “El País”, questiona
o futuro que aguardam partidos políticos, sindicatos e os
meios de comunicação no mundo contemporâneo,
uma vez que a internet é um “fenômeno de desintermediação”.
Ele argumento ainda que os jornais, tais como os conhecemos, acabaram,
mas isso não significa que deixarão de existir. Os
jornais impressos pertenceram à sociedade industrial, e não
estamos mais nela.
Recebeu particular atenção do autor
o tema da inclusão digital no Brasil. Embora estejamos crescendo
no mercado mundial de inclusão digital, isso é motivo
frequente de críticas. Baseado em pesquisas recentes, Aleluia
observa que em comparação com outros países,
até mesmo os latino-americanos, a nossa banda larga é
muito cara e ruim. O governo federal criou o Plano Nacional da Banda
Larga (PNBL), mas não conseguiu levá-lo adiante de
forma a promover os resultados esperados. “O brasileiro paga
hoje, em média, dez vezes mais caro que os habitantes de
países desenvolvidos”(p. 104).
Outro aspecto muito discutido entre os
usuários da rede de computadores se refere à invasão
de privacidade. O autor observa que os provedores de serviços
on-line constroem dossiês sobre os hábitos dos seus
usuários e sabem tudo sobre eles. Ou seja: tudo que fazemos
on-line está armazenado em algum lugar e pode ser utilizado
para o bem ou para o mal, em algum momento. Não é
exagero. De fato, muitos internautas já tiveram problemas
com a invasão das suas contas na internet.
Se costuma dizer que a internet é um território
livre, mas, até pouco tempo, ela era terra de ninguém,
pois não havia qualquer regulação do setor.
Só recentemente foi aprovado no Congresso Nacional o Marco
Civil para a internet, que regula essas questões do mundo
virtual e atribui responsabilidades. Não se sabe ainda como
funcionará na prática, porque no Brasil real o que
não faltam são leis. Elas existem no papel, mas em
geral não são aplicadas.
*Marcio Salgado é escritor e pesquisador.
Publicado na revista JOÃO DO RIO
( www.joaodorio.com), edição de junho/julho
Leia também:
Jornalista
e blogueiro lança publicação sobre o futuro
da mídia na era digital |