OS VERSOS EM GUARDANAPO DO POETA MICHEL
TEMER
Com tempo livre nos voos entre São Paulo
e Brasília, o vice-presidente encheu de poemas dezenas de
lenços de papel; o livro sai no fim do mês
Gabriel Manzano
Livro de Michel Temer é lançado em 31/01/13
Foi há uns oito anos, num voo entre
São Paulo e Brasília, que o então deputado
Michel Temer (PMDB-SP) pegou um guardanapo e rabiscou ideias que
lhe vieram à cabeça. Era um poeminha curto, e ele
o guardou. Desde então, foram tantos voos e tantos guardanapos
que sua fama de poeta começou a correr, discretamente, entre
os amigos. Ajuntados em grandes envelopes, esses frágeis
papéis, alguns já amarfanhados, foram parar na editora
Topbooks e o resultado é Anônima Intimidade,
um livro de 165 páginas que o vice-presidente lança
no dia 31, com ilustrações de Ciro Fernandes.
"Eu não sabia se os versos eram bons,
mas os amigos me diziam que sim", avisa o autor, que é
também professor de Direito e dono de bem-sucedida carreira
no mundo jurídico - seu Elementos de Direito Constitucional
já vendeu mais de 200 mil exemplares. "Tive o privilégio
de conhecer a obra quando era um conjunto de rabiscos", diz
seu velho amigo e assessor Gaudêncio Torquato, cientista político
e colunista do Estado. "Outros amigos também
apreciaram", diz Temer, "e o Carlinhos gostou tanto que
se ofereceu até para escrever o prefácio". Carlinhos,
amigo de décadas, é Carlos Ayres Britto, ex-ministro
do Supremo Tribunal Federal e também poeta nas horas vagas.
"Cada escrito representava meu eu interior
se exteriorizando", resume o autor de seus 120 poemas. E essas
exteriorizações vão desfilando em versos curtos,
página por página. Às vezes, num tom filosófico,
como "O mundo não era eu/ Eu não era o mundo
/ Dois estranhos contra a minha vontade / Convivendo". Em "Circo",
ele faz um balanço da vida: "Somos todos palhaços
/ Choramos no camarim / Para alegrar-nos / No palco da vida".
Ele se dá momentos de exaltação
amorosa: "Assim louco / Vou à procura de ti / Do teu
querer / Do amor, da entrega / No ato / E fora dele / Desatino-me".
Mais adiante, um olhar sobre o tempo: "Quando parei para pensar
/ Todos os pensamentos / Já haviam acontecido". Mas
também há lugar para bom humor, neste trecho de "Assintonia",
que ele mesmo lê e ri: "Lamentavelmente as coisas andam
bem / Por isso andam mal os meus escritos".
O apoio crítico parece garantido. O amigo
Torquato, que muito o estimulou, define a poesia de Temer como "autêntica,
concisa, plena de agudas percepções". O imortal
Carlos Nejar, que além da Academia Brasileira de Letras integra
a Academia Brasileira de Filosofia, saúda nele "um jurisconsulto
do verso, arquitetando metáforas, hipérboles, oximoros,
símbolos".
O ESTADO DE S.PAULO
14/01/2013
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