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APÓS 15 ANOS, ACADÊMICO ANTONIO CARLOS SECCHIN VOLTA A PUBLICAR POEMAS INÉDITOS

Leonardo Cazes

“Secchin é crítico literário, Antonio Carlos é poeta.” A brincadeira, escrita num livreto anos atrás, era uma referência à vida dupla do poeta, crítico, ensaísta, professor e acadêmico Antonio Carlos Secchin. Há 15 anos sem publicar um livro de poemas inéditos, ele rompe o silêncio com “Desdizer” (Topbooks), em edição que reúne ainda toda a sua produção anterior, desde a década de 1970, a ser lançado amanhã. O poeta conta que, desde a publicação do premiado “Todos os ventos”, em 2002, deu prioridade a outras demandas — um artigo, uma crítica, congressos. Faltou espaço, e tempo, para a poesia. Mas ela também andou arredia. Só aparecia em visitas esparsas.

— Escrever dois poemas num dia, para mim, seria como um sedentário correr três maratonas. Era algo que estava fora do meu horizonte de realização. Mas aconteceu. Percebi que o poema ainda tinha vigor para mim. Segui o meu estilo, com várias formas, vários registros poéticos. Eu me sinto bem é nessa diversidade de dicções — defende o poeta, sentado numa poltrona do escritório de seu apartamento, em Copacabana, cujas paredes são decoradas com pinturas de amigos, como Ferreira Gullar, e fotos históricas, como uma encenação do quadro “Aula de anatomia”, de Rembrandt, por membros da Academia Brasileira de Letras (ABL).Secchin reconhece que sentiu medo de a verve poética tê-lo abandonado. No início deste ano, entretanto, decidiu partir para uma prova de fogo: colocou na cabeça que queria fazer um novo livro. Então, depois de escrever poemas muito esparsos na década e meia anterior, os textos lhe vieram em um fluxo até então desconhecido.

Essa diversidade se manifesta tanto na forma quanto nos temas dos poemas reunidos em “Desdizer”. Podem ser a linguagem e a cidade, como nos versos de “Língua negra, Rio 30 graus” — “Negra, negra língua,/ com seu gosto de esgoto e de quimera./ Língua que se desfaz, liquefeita,/ na cachaça trôpega dos bares da favela.” —, ou então uma reflexão sobre o ofício do poeta, em “Autorretrato”: “Um poeta nunca sabe/ onde sua voz termina,/ se é dele de fato a voz/ que no seu nome se assina.” Para Secchin, “não ter o caminho é o caminho”.

— Quem tem o caminho, acredita na verdade daquele caminho. Fico espantado como certas pessoas têm tanta convicção de este é “o” caminho da boa poesia. A poesia e o bom poema é sempre algo depois, nunca é antes, a partir de um ponto de vista, de um pressuposto, de aqui está a maneira de fazer — defende o poeta. — Muitas vezes, essa suposta influência é inversamente proporcional à tiragem dos livros. Quanto mais pajé de sua pequena tribo, mais o poeta, o crítico ou o teórico acha que pode legislar em nome da Humanidade. A minha “verdade” é um corpo a corpo com a linguagem, é verso a verso, poema a poema. O que der certo, deu, sem depender de uma diretriz a priori.

A POESIA DO “NÃO CAMINHO”

Com uma tradição peso pesado às costas, optar pelo “não caminho” é um desafio, como o próprio Secchin admite em “Na antessala”, o primeiro poema do livro. Depois de aguardar, num mosteiro, o dom de Deus e receber apenas “pastiche da poesia de Drummond”, o poeta avisa, ao leitor, que só resta ser ele mesmo: “O desavisado leitor/ não espere muito de mim./ O máximo que mal consigo,/ é chegar a Antonio Secchin.” No último poema do livro, “Poema-saída”, o autor volta ao mesmo tema: “Sei apenas que escrever/ nunca me apontou saída./ Mas ainda assim é nisso/ que apostei a minha vida.”.

— Esse livro não poderia se chamar “dizer”. Já há muitos ditos, muitos dizeres. Também não gostaria que fosse “redizer”, pois aí seria prestar uma subserviência, uma homenagem explícita demais aos antecessores. Daí a ideia do “desdizer”, que é não só tentar desdizer a herança enorme e maravilhosa que recebemos, mas desdizer a si mesmo. Não adianta o poeta encontrar a sua voz e achar que essa voz já está definitiva — diz Secchin. — Os grandes poetas são excepcionais para a literatura, mas muito ruins para os outros poetas. Abrem mil portas com sua poesia, mas trancam todas elas quando vão embora.

Uma das manifestações do seu gesto de “desdizer”, a tradição poética está na utilização de um dos gêneros mais solenes, o soneto, para tratar dos assuntos mais mundanos. É o caso dos divertidos versos de “Soneto desmemoriado”, que dizem “Aos noventa, a cabeça, convenhamos,/ não vale um piquenique em Paquetá./ Já me afoguei no piscinão de Ramos/ pensando que eu nadava em Shangri-lá.”.

— Eu acho muito interessante essa tensão entre uma forma nobre e um conteúdo prosaico, um conteúdo vulgar. Usar o o verso dodecassílabo ou um decassílabo heroico, profanando um pouco, me perdoe, Camões. Acho que tudo cabe em qualquer lugar. Por outro lado, depois, no livro, entra um poema muito denso e grave. A poesia é um condomínio de muitos condôminos. É múltipla, pode entrar tudo. Depois que você sai, você paga a conta. Se fez um bom poema, vale a pena — argumenta.

E, após esse hiato de 15 anos, o poeta pretende manter tanto tempo de silêncio novamente?

— Espero que em 14 anos eu já tenha uns dez poemas novos (risos) — brinca. — Há sempre um temor, de que agora acabou. Mas fiquei contente porque um ou dois poemas surgiram depois, quando o livro estava pronto, mostrando que esse lastro ainda sobrevive em mim.

Publicado no Segundo Caderno de O Globo, em 11 de setembro de 2017.

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