NÊUMANNE CONTA LULA
Sebastião Nery
SALVADOR – No “Globo” de terça-feira,
30, o jornalista Sérgio Roxo contou uma historia fantástica,
sobretudo porque verdadeira, irrespondível:
1 – “O ex-presidente Lula retoma a vida de palestrante
internacional. Contratado pelas empreiteiras OAS e Queiroz Galvão,
o ex-presidente irá à Bolívia, à Costa
Rica e a El Salvador. Lula viaja em jatos particulares bancados
pelas empreiteiras, e acompanhado de assessores. Ele recebe cerca
de 300 mil dólares por palestra no exterior”…
2 – “O giro do ex-presidente começou em Santa
Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde participaria à
noite, com o presidente boliviano Evo Morales, de uma reunião
com movimentos sociais… De manhã, pago pela OAS, Lula
falaria a empresários, industriais, produtores rurais e integrantes
da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos”…
3 – “A empreiteira brasileira é responsável
pela construção de uma estrada de 415 milhões
de dólares, cerca de 660 milhões de reais, que enfrenta
protestos por cortar uma área indígena. Os índios
ameaçam impedir a execução da obra, que tem
financiamento do BNDES”…
***
QUEIROZ GALVÃO
4. “O giro do ex-presidente continua amanhã
com visita a El Salvador para palestra contratada pela construtora
Queiroz Galvão…”
Resta decifrar um enigma: Lula recebe das empreiteiras 300 mil dólares
por “palestra”, por serviços já prestados
ontem, que estão sendo prestados hoje ou que serão
prestados amanhã? Vamos reconhecer que, em matéria
de “consultoria” e lobby, diante de Lula, Palocci e
José Dirceu são dois neófitos, dois aprendizes.
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JOSÉ NEUMANNE
Se você está impressionado com
a desenvoltura faturante de Lula e imagina que só agora ele
é assim, entre na primeira livraria e compre “O que
sei de Lula”, um fascinante, surpreendente e verdadeiro livro
do jornalista José Nêumanne Pinto, um dos profissionais
mais antigos, experientes e respeitados do jornalismo brasileiro
(Editora Topbooks).
Com autoridade de quem, trabalhando para o “Jornal
do Brasil”, a “Folha de S. Paulo” e
outros jornais e revistas do país, acompanhou semanalmente,
mensalmente, desde o começo dos anos 70, a vida do Lula torneiro
mecânico, dirigente de sindicato e fundador do PT e da CUT,
Nêumanne conta a história de Lula sem preconceito e
sem baboseiras, considerando-o “o maior político brasileiro”
e também reconhecendo nele um herói sem nenhum caráter,
pedra fundamental de sua personalidade.
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GOLBERY
Quem ainda não leu o livro e quer um
aperitivo, leia a entrevista de Nêumanne à Silvia Amorim
no Globo de terça, dia 30 de agosto:
– “Lula não é de esquerda, é um
conservador… Ele recusou proposta de Golbery para apoiar a
volta dos exilados”:
– “Entre 1978 e 1979 eu fui procurado pelo Cláudio
Lembo, presidente da Arena na época, porque ele tinha uma
missão. O general Golbery do Couto e Silva queria fazer a
volta dos exilados e queria apoio do Lula. A reunião foi
em um sítio do sindicato, e lá eu ouvi o Lula dizer”:
– “Doutor Cláudio, fala para o general que eu
não entro nessa porque eu quero que esses caras se danem.
Os caras estão lá tomando vinho e vêm para cá
mandar em nós?…”
“O Lula falava que a Igreja tinha
dois mil anos de dívidas com a classe trabalhadora e que
não resolveria em dois anos. Com os estudantes, dizia que
poderia fazer um pacto: eles não encheriam o saco do sindicato
e o sindicato não encheria o deles. Isso tudo eu vi, ninguém
me contou. Ele é um conservadoraço. Nunca foi revolucionário”.
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SERRA
“Lula é o maior político
brasileiro e não considero isso, necessariamente, um elogio.
Você sabe o que é o político brasileiro? É
o cara que faz qualquer coisa para ficar no poder. E isso é
o Lula. A primeira vez que eu usei essa expressão, o José
Serra me chamou e disse que Getúlio Vargas era o maior político
que o país tivera. Falei: “Serra, o Getúlio
meteu uma bala no peito por causa de uma corrupçãozinha
de um segurança do pai dele”.
“E o Lula administrou uma quadrilha chamada
mensalão e a oposição não tem um cara
para enfrentá-lo na eleição. Nunca houve um
conciliador como Lula. Apesar de ele dizer que é uma metamorfose
ambulante, ele não mudou. Usa os mesmos métodos. No
palanque, nos tempos do sindicalismo, a primeira coisa que aprendi
foi o método dele. Ele botava dois companheiros para defender
teses diferentes: um a favor de manter a greve e o outro contra.
Ele olhava a reação do povo e decidia. Esse é
o cara que colocou Dirceu versus Palocci. Ele governa na cizânia.
Tem a sabedoria ancestral de dividir para reinar. Isso é
ele”.
Publicado na Tribuna da Internet em 04.09.2011.
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